Discurso do Secretário Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, na trigésima comemoração do lançamento do Centro Consultivo de Estudos e Registros, na quinta feira 19 de Janeiro de 2023, em Beirute.
Redação do site
O Secretário-Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, enfatizou que os próximos seis anos serão fatídicos para o Líbano e o país corre o risco de entrar em colapso. No seu discurso por ocasião do trigésimo aniversário do lançamento do Centro Consultivo de Estudos e Documentação, insistiu que a principal preocupação neste momento é a preocupação econômica e o nível da vida das populações. Nasrallah promoveu ideias para tirar o Líbano da crise, garantindo que não devemos perder a esperança e a confiança.
As principais ideias do discurso
Um presidente que não tenha medo dos americanos
“Os próximos seis anos serão fatídicos. Se continuarmos assim, o país vai entrar em colapso, se já não estivermos nele (no colapso). Não temos tempo e não podemos perdê-lo por mais seis anos e dizer que o importante é que temos um Presidente da República. A questão não são esses limites, é a simplificação.
Queremos que venha um Presidente da República, com um governo que prossiga com o resgate do país, queremos um Presidente firme que de dentro do Palácio de Baabda não se incline para onde o vento tende. Queremos uma personalidade corajosa que esteja disposta a se sacrificar e que se importa com as ameaças americanas. Os espécimes existem.
As forças que se gabam de serem soberanas sabem muito bem que há interferência americana e estão num silêncio mortal. Porém, há grandes esperanças e os libaneses conseguem se levantar. Para isso, é preciso vontade, um plano bem planejado juntamente com seriedade na ação.
Não há dúvida de que a situação econômica é muito difícil, mas essa situação não é exclusiva do Líbano. Há países que vivem crises econômicas severas e sufocantes. Mas não devemos nos desesperar e desistir sabendo que alguns querem espalhar esse clima no Líbano… O mais importante, antes do plano e do tratamento da crise, é a esperança e a confiança nas capacidades nacionais para encontrar soluções para sair desse impasse. Se perdermos a esperança e a frustração prevalecer, isso significa que estamos indo para o abismo.
Salvar a situação da vida é a responsabilidade do Estado, da sociedade, do povo, além das forças políticas e dos especialistas, e cada depende da sua capacidade e posição. Não é permitido ficar vagando (em todas as direções) como nos anos anteriores. Em algum lugar, as autoridades devem tomar a iniciativa de desenvolver uma visão para lidar com a situação econômica e com base na qual serão feitos planos e programas baseados em uma visão completa e perfeita.
As causas da crise
As causas da situação atual são várias, entre as quais a deficiência e frouxidão administrativa e financeira, a falta de competência e experiência, os erros de cálculo político sobre os quais se construiu a visão econômica nos anos 90, alguns errados e por vezes políticas financeiras corruptas e corruptoras, o endividamento, seu método e juros altos, que traziam enormes dívidas para o orçamento, golpes na produção (local), no espírito de trabalho, na consagração da cultura dos ganhos superficiais, nas cotas comunitárias na realização de projetos, o rescaldo da guerra civil e da reconstrução, os arquivos dos deslocados, o rescaldo das guerras e agressões israelenses, as consequências dos acontecimentos regionais e, nos últimos três anos, sanções e pressões devido ao bloqueio.
Algumas pessoas argumentam que não há bloqueio, mas o bloqueio não consiste apenas em colocar um navio de guerra na costa libanesa, o comportamento da administração americana com as autoridades libanesas é mais que suficiente, visto que o bloqueio resulta no bloqueio de ajuda, depósitos e empréstimos do exterior, proibindo o Estado de aceitar doações como o fornecimento de combustível e investimentos iranianos e impedindo-o de lidar com o arquivo de sírios deslocados…
A soma destes e de outros fatores confirma a existência de um conjunto de causas que levaram a esta situação. Não basta abordar apenas um, ou dois ou três. Você tem que abordar todos eles. A visão, nos anos 90 (do século passado), baseava-se na ideia de que a região caminhava para uma suposta paz e acordo com Israel.
Uma visão econômica sobre a ausência de compromisso
O mais importante no estabelecimento de uma visão econômica é contar com cálculos políticos corretos e não confiar na existência de um acordo ilusório, pelo menos no futuro próximo. Em minha opinião, não haverá acordo. Devemos construir uma visão econômica na base de que não haverá assentamento na região. Então, onde está a solução de dois estados, especialmente com este novo governo sionista corrupto e terrorista? Portanto, não caminhamos para compromissos ou para cenários de paz e estabilidade na região.
Não haverá compromisso com a Síria. O que aconteceu na Síria foi uma tentativa de instaurar um regime político que ceda Golã à entidade sionista. A região caminha para mais tensões e não haverá acordos nem cenas de paz. O que vai complicar ainda mais as coisas na nossa região.
Não conte com a posição diferenciada do Líbano, há países que competem com o Líbano no turismo, nem facilitam o setor de serviços nem o de bancos. Devemos agir por uma economia que proporcione segurança alimentar e não dependa da ajuda externa.
Devemos caminhar para as opções de uma economia produtiva, uma economia do conhecimento, uma economia que garanta a segurança alimentar, baseada em fatos e que não espere por ajuda externa. Há muitas capacidades no Líbano, entre as quais a força dos libanês, além da riqueza hidráulica. Tem segurança, o índice de segurança aqui é alto, muito mais alto do que nos Estados Unidos. Isso graças ao Exército Libanês, forças de segurança e consciência política.
Petróleo em nosso solo
Há também petróleo e gás. Todos os dados confirmam que existe algo grande, enorme. Há uma riqueza enorme e um mercado pronto e disposto.
Não corremos o risco de entrar em guerra e não suportamos todas as pressões e ameaças apenas para demarcar as fronteiras. Este dossiê deve ser acompanhado de perto porque diz respeito ao destino das pessoas e ao futuro do país.
Devemos reabrir o arquivo do petróleo em solo libanês. Certamente há petróleo em nosso solo. Todos os estudos dizem isso e o que parou esses estudos é a política.
Os israelenses têm jazidas nas áreas localizadas no norte da Palestina ocupada e os sírios estão explorando hidrocarbonetos nas áreas próximas à fronteira com o Líbano.
O gás é um forte triunfo para o Líbano. É uma enorme riqueza em suas águas territoriais. A prova são as novas descobertas no Mediterrâneo. A decisão dos Europeus é final. Eles querem abrir mão do gás russo e sua prioridade é o Mediterrâneo porque seu custo é mais barato. Temos que buscar empresas para aproveitar essa riqueza.
Além disso, um dos ativos mais fortes do Líbano é os expatriados, que agora são uma das forças mais importantes. Eles estão sob enorme pressão dos americanos que querem colocar certos comerciantes grandes e ricos em sua lista de sanções injustas. Isso requer proteção do Estado, e infelizmente não se tem.
Devemos trabalhar em todos os setores produtivos. O Líbano pode se tornar o país com primeiro maior hospital da região, primeiro destino turístico e primeira faculdade.
Um Estado bravo e corajoso
O Líbano precisa de um Estado corajoso que não se curve e assuma suas responsabilidades diante das pressões e sanções. Isso é soberania nas decisões. Você tem que ser corajoso e estar disposto a fazer sacrifícios para enfrentar sanções, para aceitar doações, para dizer aos chineses que venham, por que alguns países podem aceitar investimentos chineses e o Líbano não? Precisamos de coragem para enfrentar o problema dos deslocados, bem como para evitar acusações de fanatismo e racismo. Isso é algo que afeta todo o povo libanês e todos nós estamos apegados à dignidade dos deslocados sírios.
Muitos dizem que se o Líbano concordar em acabar com o conflito com ‘Israel’, tudo estará resolvido. Convido você a observar a situação no Egito, o primeiro país que fez as pazes com o inimigo israelense. O Egito tinha as melhores relações com os americanos e os sauditas, e está sob o manto do FMI, podemos perguntar, qual é a situação do Egito no momento?
Os países do Eixo da Resistência estão sofrendo porque se recusam a se curvar aos EUA, mas e os países que seguem os americanos? A situação deles não é melhor… Você vê por quê? Porque a criação de um estado forte na região não é autorizada pelos Estados Unidos.
FIM
Source: Al-Manar